A presidente da Rede Nacional de Luta contra Violência baseada no Género e Criança da Guiné-Bissau (Renluv-GB) disse que a violência começa na família, dependendo da forma como as crianças estão sendo educadas. “Portanto, a atitude de ensinar os meninos a serem autónomos e as meninas para serem submissas ou preparadas para o casamento, reflete negativamente na sociedade”.

Em entrevista ao jornal Nô Pintcha, a presidente da Renluv-GB afirmou que a imposição do trabalho doméstico designado só para a camada feminina verifica-se em todos os grupos étnicos, e esse comportamento constitui uma violência, à semelhança do casamento precoce e trabalho forçado.

Aissatu Camará Injai disse que isso tem a ver com as diferentes formas que os pais ou encarregados de educação instruem seus educandos, o que reflete negativamente no futuro dos menores. Pois, preparam as meninas para o casamento com princípios de submissão aos seus maridos e, contrariamente, ensinam os meninos a serem autónomos.

Segundo ela, os estudos concluídos pela Renluv-GB sobre a tipologia de violência contra as mulheres e meninas na Guiné-Bissau confirmam que a aquela baseada no género existe em todo o país, e um inquérito baseado nas denúncias estima uma média de 8 a 15 casos diariamente. Porém, a ativista informou que nem todas as denúncias são reveladas, pois existem ainda outras nas comunidades e que por arrogância entendem ser um assunto de família e que deve ser mantido nessa esfera.

“Se os estudos confirmam que tem-se registado uma média de 8 a 15 denúncias diárias, isso significa que, na realidade, há mais casos, tendo em conta que podem ainda existir muitos não denunciados”, disse.

Por outro lado, Aissatu Camará Injai assegurou que a Renluv-GB continua a trabalhar afincadamente na luta contra a violência baseada no género. “Criamos um projeto denominado Clínica Móvel, formado por quatro organizações que fazem parte de uma equipa móvel, nomeadamente a Renluv, a Associação de Mulheres Juristas, a Ordem dos Advogados e o Centro de Acesso à Justiça, com o objetivo de prevenir e combater a violência doméstica na Guiné-Bissau”.

Informou, igualmente, que as quatros organizações deslocam-se ao terreno para desenvolver ações de sensibilização sobre a situação de violência doméstica, orientando as pessoas em caso de serem vítimas para que saibam resolver por meios legais.

Casos registados

 Entre os 27 casos de violência registados este ano, Camará Injai disse que estão incluídos três de casamento precoce, três de violência sexual, quatro domésticos, três físicos, dois patrimoniais, um de conflito de posse de terra, dois de maltrato de criança, quatro de responsabilidades patrimonial, três homicídios, uma situação de guarda de menor e um de gravidez precoce.

Indicou que todos esses casos foram encaminhados devidamente para as instituições competentes para a sua resolução, de acordo com a lei.

“O desejo da Renluv-GB é para que não haja casos de violência. Por isso, as nossas ações têm sido mais no sentido preventivo, mas quando houver casos com intenções de violência mediamos as partes. Porém, se essa intenção de fazer a violência consumar e que requer a intervenção da justiça, encaminhamos o assunto para instituição judicial”, esclareceu.

Indjai revelou que a sua organização tem pontos focais em todas as regiões, com domínio de atendimento, mediação, encaminhamento e seguimento de casos, para fazer face ao objetivo almejado, que é de combater a violência nas mulheres e crianças.

Referindo-se ao Projeto “Clínica Móvel”, disse tratar-se de um programa que consiste na deslocação ao terreno, para reunir com vítimas de violência, líderes de opinião, jovens e mulheres sobre os mecanismos de proteção a recorrer e, nesse quadro, afirmou terem conseguido reinserir nove vítimas, tornando-as independentes dos seus parceiros.

“Disponibilizamos produtos de atividades geradoras de rendimento, porque muitas vezes, as mulheres sofrem a violência por falta da autonomia financeira. Entretanto, quando uma mãe depende exclusivamente do parceiro para pagar suas contas, ela acaba por ser condicionada a fazer coisas contra a sua vontade e perde também a sua autonomia”, sblinhou.

Tipos de violência

 Aissatu Camará Injai assegurou que a violência não é só quando se bate numa pessoa, mas também existem as violências física, psicológica, sexual, mutilação genital feminina, entre outras.

“Fazemos sensibilizações e djumbai comunitário, onde reunimos só com mulheres para que elas possam sentir à vontade em falar abertamente dos seus problemas. Pois, a maioria delas foram educadas para não divulgar seus segredos ou problemas perante o marido”, explicou.

A concluir, a presidente da RENLUV aconselhou a sociedade guineense, no sentido de deixar a prática de violência, pois qualquer dos seus tipos constitui uma violação dos direitos humanos. “Todos nós, independentemente de lugar onde vivemos, idade, cor partidária e confissão religiosa, basta ser pessoa humana, deve beneficiar de direitos fundamentais”.

Jornal Nô Pintcha